segunda-feira, 28 de junho de 2010

Eu vi um duende. Juro!!

- Garçon, pode me trazer mais um chopp? - pediu um cliente lá nos fundos. Iria ser um enorme desafio chegar lá, afinal o restaurante na Avenida Beira Rio, oficialmente Avenida Presidente Castelo Branco, estava mais que lotada. Esse final de semana tinha começado a Oktoberfest aqui em Blumenau e a cidade estava fervilhando de turistas.

- Mais alguma coisa? - gritei de forma discreta e educada lá na frente. Sem se incomodar e percebendo o quanto iria demorar se eu fosse até lá e voltasse com o pedido, como deveria ser um bom atendimento ele completou: "Vê um refrigerante light com rodela de limão".

A noite de trabalho, passou em um segundo, afinal foi uma loucura. Muita gente e todos ao mesmo tempo fazendo o seu pedido. Eu insisti tanto para o gerente contratar mais 2 garçons, nem que fosse temporário, mas ... Já eram 3h da manhã e os ônibus só iriam vir mais tarde. Nesse ano, outubro estava quente e caminhei na beira rio, na esperança de pegar um táxi logo. A lua registrava no rio Itajaí Açu seu brilho prateado, em pequenos riscos marcados sob a água, traçados pelo vento. A paisagem era inspiradora, ainda mais quando ao fundo a ponte de ferro fazia um pequeno filminho passar à mente. Como teria sido passar nela de trem há tantos anos atrás? Com certeza diferente do que é de carro, como é hoje. Puxa, nessa história de ficar encantado pela beleza, perdi mais um táxi.

Nossa, que cansaço. Sentei em um dos pontos de ônibus em estilo enxaimel, para ficar atento ao próximo táxi. Ufa, estava exausto demais para andar. A madeira acolheu o peso do meu corpo e absorveu um pouco do meu cansaço. De repente ouvi um barulho muito forte atrás de mim, na folhagem. Quando virei para trás, só deu tempo de ver um vulto se esconder. Ahh ... fiquei feliz de que as capivaras ainda estavam preservadas ao longo do rio. Olhei o relógio e novamente aquele barulho, acompanhado do que parecia serem 2 vozes. Virei imediatamente com receio de que fosse um assalto.

- Xxxsst. Xxxsst. - Que barulho mais estranho, pensei. De forma totalmente imprudente, acabei indo lá ver o que poderia ser. Agora movimentos muito próximos ao meu lado, com uma rapidez impressionante e correndo para baixo. Pareciam 2 crianças. Me colocando no lugar dos pais, imediatamente me pus a ir atrás. Desceram e entraram na saída do esgoto. Em um misto de medo e curiosidade, acabei criando coragem e entrei. O cheiro horrível não foi suficiente para reduzir o impacto do que estava vendo. Lá atrás, várias "crianças". Elas correram e se dividiram entrando em vários buracos nesse túnel. O que era isso? Haviam luzes nesses buracos, pareciam tochas, pela luminosidade. A vontade era de correr e chamar a polícia, mas em imaturo passo de coragem fui em frente. Olhei para dentro de um desses espaços e percebi vários olhos medrosos me fitando.

Deviam ter em torno de 45 centimetros de altura, um corpo obeso, pernas finas, orelhas compridas, pontiagudas, cabelos até a metade das costas e pretos. O que parecia ser o chefe se aproximou e começou a falar em ma língua parecida com alemão: "- Wir brauchten das jemanden kannte." Nessas horas vi a vantagem da ascendência germânica, por entendi perfeitamente que ele disse "Nós precisávamos que alguém soubesse". Todos mais calmos, ele começou a explicar que, fora ele, eles eram os últimos Meninos homens albinos, que eram considerados leprosos, quando vieram escondidos nos primeiros barcos que vieram da Alemanha. Sempre foram discriminados e decidiram montar uma cidade de túneis abaixo do centro de Blumenau.

De tempos em tempos eles escolhiam uma nova pessoa que pudessem contatar no mundo "normal" para guardar o segredo e um dia, quando eles desaparecessem, contassem o que havia debaixo do centro de Blumenau. Para se sustentar, criavam ratazanas e de vez em quando conseguiam caçar uma capivara.Plantavam "aipim" que era fonte de alimentação junto com algumas verduras. Explicou a dificuldade que enfrentavam quando o rio enchia e explicaram como descobriram uma forma de comunicação com os macacos bugios. O morro atrás do shopping, com sua mata agora aberta ao público por muitos anos os acolheu, principalmente nas grandes enchentes. A rede de túneis que tinham escavado, foi aproveitada mais tarde, para escoamento da rede fluvial e até para a preparação da vinda de um grande assassino. Não faziam idéia de quem era. Ele disse que agora eu precisava ir, mas que nunca esquecesse de falar em forma de história, para o meu filho. Eu prometi que voltaria.

Fiquei lá dentro, até perceber um brilho lá atrás, que não era de tocha. Mas foi um calor no rosto e um cutucão que mais me incomodaram.Meus olhos fechados foram acordados pelo sol no rosto. A imagem de um homem forte em traje ocre, deixou claro que o policial não iria tolerar vagabundagem. Mas observou a roupa de garçon e percebeu que era apenas um trabalhador que adormeceu no ponto de ônibus. Nossa, que noite. Será que adormeci ou conheci um segredo guardado a décadas? Voltarei lá para conferir. Jamais esquecerei aquelas imagens.

Um comentário:

  1. Hummm ficarei aguardando novidades...com certeza vai ter continuação! ;-)

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